Não se pode dizer muita coisa sobre esses dias que se passam, por ai... Eles passam sempre querendo nos dizer algo, mas somos proibidos de dizer algo sobre eles. São línguas e lábios que sempre gritm mais que os outros...
Se pararmos para analisar qual a verdadeira função do falar, vamos nos deparar com algo bem simples: comunicar-se. Porém, essa arte vem sendo deturpada ao longo dos anos, resultando em diversas funções adaptáveis para tal ato tão único: confusões, audições equivocadas e estórias muito bem inventadas. O falar que pode curar, como nosso saudoso Freud já comprovou, pode também destruir, oprimir e corromper. O tempo todo se é bombardeado com falas e ditos que ninguém sabe de onde surgem, que não tem cara, nem coração, somente sons. Vozes que se dizem com a razão toda pra si, quando na verdade se passa bem longe dela, vidas que são enraizadas em acusações e preconceitos que custam ser desmontados e enterrados.
É tão mais fácil falar, correto? E ouvir? Ouvir desventuras sobre seus próprios sentimentos e atitudes vindo de bocas que acham que podem ditar verdades e inverdades pelo mundo. Como um coração se sente quando ouve que não pode bater como se quer bater? Como lidar quando sua música não tem o mesmo sentido em Dó, mas insistem que se continue segurando essa nota eternamente? Ninguém sabe. Porque todo mundo só quer saber de falar. Ouvir se tornou algo destinados à alguns, que em sua colossal insegurança (talvez!), não se sentem capazes de falar.
A arte de ouvir é algo singelo e muito difícil: tanto ouvir o outro, como ouvir dos outros algo sobre você. É difícil porque nem sempre as falas estão claras, elas ás vezes surgem pra confundir; outras vezes elas são como facas afiadas cortando um belo salmão para aquele delicioso sushi... E por poucas vezes elas nos servem como aquela roupa linda da vitrine (caso aconteça, comemore!), só que esses momentos poucas vezes acontecem. Os sushis existem, em sua maioria...
Um recado é importante de se deixar para pessoas que só falam: uma hora vocês precisarão ouvir e, nesse dia, não será tão fácil, garanto. E uma nota para aqueles bons ouvintes: quando se tem a coragem de interromper o fluxo de falas ruins nas suas vidas, ouvir passa a ser algo melhor na vida. Para isso, coragem... Muita coragem. Coragem de calar bocas, selar lábios e cortar línguas. Atitudes necessárias quando se quer ter um minuto de silêncio e poder ouvir o dia passando em sua calmaria.
Tem-se que dar um basta em tanto falatórios e dedos afiados à canivetes, prontos para furar tantos ouvidos por ai. Que cada um cuide do que se quer ouvir, viver, morrer, gritar, falar, sussurrar..., sem ter que se importar com os imperativos que existem por aí. Olhar para dentro de si mesmo deveria ser uma arte ensinada nas escolas e dominada por todos: ela é a base para a construção do respeito e da tolerância. Itens em falta nas prateleiras do mundo.
Nessa vida temos poucos momentos de deleite, e eles têm que ser gerados e paridos por nós mesmos, nos momentos mais inesperados, sem depender de sons de ninguém.