sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Afrontar seus próprios medo não está na lista de melhores coisas a se fazer na vida. Mas é preciso. Eles te assustam em todas as estações e jamais te deixam só. Companhia tão dispendiosa, essa. Por mais que você tente se tornar aguerrido, essa braveza se varre como nuvens de chuva, quando se pensa no que vai ser afrontado quando estiver sozinho no mundo.

O medo te controla, te guia para o caminho mais certo plausível, mas olvida te dizer o que você pode abafar adotando seu mapa. Se perde cores novas, sentimentos vívidos e os sonhos são armazenados no fundo de sua memória até se tornarem estórias infantis mal contadas.

O medo toma conta de tudo, desde seu emprego até seu coração, mas te crava as unhas quando você tenta voar. Não te admite conhecer outros mundos, outros mares... tudo se pinta muito ameaçador e as chances de arruinar-se são muitas. Mas, muitas vezes, já estamos confusos.

O medo te conecta como um espectador de sua vida, sem autorizações e com muitas amarras. Quando, por minutos, consegue desencadear-se de suas amarras, sempre acontece uma descaída para te mostrar que cursar com o medo é mais protegido. O medo é astuto e sabe o que faz com nossas ilusões.


E, quando se resolve afrontar o medo, está estreando a maior duelo de todos os tempos. Ele esperneia, grita, adverte, impetra, na tentativa de reconquistar sua morada. E por um momento ele até acha que vai vencer, mas ele não impetra. Quando se aprende a arte de domar os medos, se aprende a voltar a viver.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Pequena História de Amor

Não foi por opção, nem por engano: incidiu como devia incidir. O augurado sempre é mal visto por aqueles que não creem em algo maior do que escolhas e desígnios.

Ela estava abotoada em achismos medíocres e se negando a oportunidade de esperar seus finais felizes. E, quando ele chegou, ela não pôde crer que o merecia. Mas, para sua surpresa, já o tinha.

A cada despertar é uma nova ocasião de se fazer digna daquele sorriso que cintila em qualquer isolamento. Por ele, ela reviu seus julgamentos, se inventou e retocou mulher, repartindo aquilo que só incumbia a si própria. 

Agora, se sentia capaz de ser e fazer qualquer coisa, em qualquer lugar.


E como recompensa, beijos praianos, abraços candentes e olhares que ela sabia que cuidariam dela até o fim. Esse era seu tão inevitável final feliz...

domingo, 6 de dezembro de 2015

Diário de Uma Opinião #1

Não se pode dizer muita coisa sobre esses dias que se passam, por ai... Eles passam sempre querendo nos dizer algo, mas somos proibidos de dizer algo sobre eles. São línguas e lábios que sempre gritm mais que os outros...

Se pararmos para analisar qual a verdadeira função do falar, vamos nos deparar com algo bem simples: comunicar-se. Porém, essa arte vem sendo deturpada ao longo dos anos, resultando em diversas funções adaptáveis para tal ato tão único: confusões, audições equivocadas e estórias muito bem inventadas. O falar que pode curar, como nosso saudoso Freud já comprovou, pode também destruir, oprimir e corromper. O tempo todo se é bombardeado com falas e ditos que ninguém sabe de onde surgem, que não tem cara, nem coração, somente sons. Vozes que se dizem com a razão toda pra si, quando na verdade se passa bem longe dela, vidas que são enraizadas em acusações e preconceitos que custam ser desmontados e enterrados.

É tão mais fácil falar, correto? E ouvir? Ouvir desventuras sobre seus próprios sentimentos e atitudes vindo de bocas que acham que podem ditar verdades e inverdades pelo mundo. Como um coração se sente quando ouve que não pode bater como se quer bater? Como lidar quando sua música não tem o mesmo sentido em Dó, mas insistem que se continue segurando essa nota eternamente? Ninguém sabe. Porque todo mundo só quer saber de falar. Ouvir se tornou algo destinados à alguns, que em sua colossal insegurança (talvez!), não se sentem capazes de falar.

A arte de ouvir é algo singelo e muito difícil: tanto ouvir o outro, como ouvir dos outros algo sobre você. É difícil porque nem sempre as falas estão claras, elas ás vezes surgem pra confundir; outras vezes elas são como facas afiadas cortando um belo salmão para aquele delicioso sushi... E por poucas vezes elas nos servem como aquela roupa linda da vitrine (caso aconteça, comemore!), só que esses momentos poucas vezes acontecem. Os sushis existem, em sua maioria...

Um recado é importante de se deixar para pessoas que só falam: uma hora vocês precisarão ouvir e, nesse dia, não será tão fácil, garanto. E uma nota para aqueles bons ouvintes: quando se tem a coragem de interromper o fluxo de falas ruins nas suas vidas, ouvir passa a ser algo melhor na vida. Para isso, coragem... Muita coragem. Coragem de calar bocas, selar lábios e cortar línguas. Atitudes necessárias quando se quer ter um minuto de silêncio e poder ouvir o dia passando em sua calmaria.

Tem-se que dar um basta em tanto falatórios e dedos afiados à canivetes, prontos para furar tantos ouvidos por ai. Que cada um cuide do que se quer ouvir, viver, morrer, gritar, falar, sussurrar..., sem ter que se importar com os imperativos que existem por aí. Olhar para dentro de si mesmo deveria ser uma arte ensinada nas escolas e dominada por todos: ela é a base para a construção do respeito e da tolerância. Itens em falta nas prateleiras do mundo.

Nessa vida temos poucos momentos de deleite, e eles têm que ser gerados e paridos por nós mesmos, nos momentos mais inesperados, sem depender de sons de ninguém.


quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Momentos...

Por um momento ela o quis de volta. Só por aquele momento. Momento que ela se lembrou do cochicho do seu sorriso tímido, do quente de seus braços em giro de sua cintura durante uma noite frígida, e daqueles beijos que a sossegavam em épocas irrequietas. Por um momento.
Por um momento ela quis deslembrar de tudo e voltar. Voltar para aquele tempo em que vivia com um sorriso tolo, com o coração ingênuo de paixão e com um lado para voltar. Agora não há mais, e por aquele momento ela o quis próximo para ouvir: “vai acabar tudo bem...”, mas não vai. Não naquele momento.
Naquele momento não quis mais ouvir pensamentos, nem sentir suas dores. Mas não dava. Estava tudo ali, desvendado, sangrando e proferindo em seu ouvido o quanto tudo tinha sido uma ilusão. Todos aqueles momentos.

E todos aqueles momentos esvaeceram novamente. Ela voltou ao seu torpor, a um mundo em que não mais acreditava naquela existência, que um dia, foi venturosa. Todos os momentos desapareceram e ela se foi. Se não se crê, não existe mais. O amor, o futuro, os momentos, tudo se foi porque ela deixou de acreditar. E por aquele momento, foi (um pouco) feliz.


quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Em 3ª Pessoa




Cris se descobria, por muitas vezes, num negrume total.
Um lugar que não a resguardava de si mesma e de tudo que ela ambicionava deixar para trás.
Eram sentimentos maiores que a luz, eram palavras que ainda retumbavam em sua memória,
Oscilações que não tinham o domínio de salvá-la e ainda aqueles beijos que jamais viveram.


Cris sentia dores invisíveis, por mais que o tempo perdurasse.
Nada dura tanto quanto a noite escura e o dia que não raia seu Sol.
A não ser a desbarato de saber que tudo se partiu.


Cris assistia desenhos ilegíveis de uma vida que nunca existiu,
Suas lembranças teimavam em sobreviver, lhe coloriam os olhos vermelhos.
Nada era tão real quanto o que Cris sentia e persistia em sua alma.
Uma dor sem tamanho, uma lágrima incessante e uma morte, que tudo levou.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Breve Definição

Sou construída de múltiplos sonhos e desiguais palavras, de gritos diários e nunca sussurros, de inesperados choros e constantes alegrias, de todos os encontros e suas despedidas.

Idolatro o dia e respeito a noite. Amo o sol, e tudo aquilo que reluz. Tudo que é escuro, eu trato de trazer à luz, de alumiar.

Meu sangue pulsa e impulsa todos os sentimentos ambíguos nesse peito amalucado. Um coração indeciso, que vive entre a felicidade plena e a solidão necessária.

Sou impetrada de ciúmes, carências, peles e imediatismos. Gosto de estar perto, saber de tudo, falar de tudo, externalizar emoções, esvaziar a alma. Não gosto do longe, de distâncias e de ter saudades.

Sou sangue desvendado, vísceras dilaceradas, peito fendido, falas claras e diretas. Exponho a cara à tapa, ao vento, à chuva, ao que vier. A decisão quando tem que ser tomada, eu o faço. Chamam isso de impulsividade, eu chamo de firmeza.

Não aprecio o esperar, meu tempo é o agora: o amanhã pode não se atingir; o ontem deve ter suas lições aprendidas, por mais dolentes que sejam e, depois, olvidado, deixado pra traz. O hoje é o que vale.


Apesar do pouco vertical, sou gigante em todos os sentidos e tamanhos que possam me existir. Canto e danço a música que o mundo toca, mas elejo com fleuma quais que me emocionam.  

Nada do que ficou para traz pede que eu volte. Vou seguindo, reinventando minhas cores e acendendo minhas luzes, sem me privar de todos os sorrisos que eu possa dar.